Era 1957, tempos acelerados para um Brasil que parecia jovem. Juscelino prometia 50 anos em 5 enquanto avisava que Brasília seria a nova capital, a Copa do Mundo se avizinhava como uma nova chance do escrete canarinho levantar a Jules Rimet. A TV engatinhava e o rádio ainda mandava nas salas das casas tupiniquins trazendo as últimas da musica.
No meio desse caldeirão todo, dois garotos estavam contaminados fortemente pelo gene do ainda incipiente Rock ‘n Roll, trazido na boca do romântico Cauby Peixoto com a “Maracangalha“. Garotos da Tijuca que se conheceram pelo Rock e, por cada lado da música, militaram: Tim Maia, pelo lado do Soul, Erasmo Esteves pelo Rock… o Rock que transformaria o sobrenome do garoto, de Esteves para Carlos, ou simplesmente o “tremendão“, cheio de marras e letras entre a reflexão da vida e a contação de causos da juventude transviada.
Erasmo Carlos, 81 anos, infelizmente passou de um pioneiro eternamente jovem entre nós para os compêndios da musica brasileira. E tão subitamente quanto podíamos imaginar. Ele nos deixou no início da tarde desta terça-feira (22), curiosamente no dia dos músicos, após ser internado e intubado as pressas. Ele tratara recentemente uma síndrome edemigênica (excesso de líquido preso nos tecidos do corpo) e até levantou boatos dos mais maldosos sobre sua morte na primeira internação, rapidamente refugados pela já conhecida “força” que esbanjava a cada aparição.

Infelizmente, seguindo o roteiro de um novembro pesado, Erasmo resolveu partir para ver, do alto, o “Panorama Ecológico” que cantara. O garoto que, de uma banda simples formada por aquela “Turma da Tijuca” passou ao “tremendão“, como um dos líderes de um movimento que revolucionaria o Pop nacional e os costumes da mocidade: a Jovem Guarda, que provocou um terremoto musical ao lado do “Rei” (Roberto Carlos) e da “Ternurinha” (Wanderléa) e revelando novos nomes para o ainda jovem Rock/Pop brasileiro e outros segmentos.
Encarando com peito as críticas de “americanizado” que recebia de setores da música, Erasmo atravessou o período da Jovem Guarda e passou, pouco a pouco, a mudar sua pegada musical, adotando nuances hippies, do Samba-Rock e até mesmo traços do Soul, sobretudo na entrada dos anos 1970. Suas canções tocaram em feridas, levantaram questões sociais e ambientais, e quando mais descontraído, fala que era “uma criança e não entendia nada” ou da mania da turma que “Pega na Mentira“.

Foi uma vida intensa, onde Erasmo colecionou duetos famosos, grandes amigos (além da grande amizade com Roberto Carlos, eterno parceiro de composíções) e que, seja nos shows ou na tranquilidade da sua morada, não deixava de exibir a sua marra caracteristica, o estilão de um jovem senhor de 80 que não cansava de fazer aquilo que fez e militou a vida toda: tocar em todos os estilos o seu bom e velho Rock ‘n Roll.
Imagine o encontro com o amigo Tim lá pelo andar de cima! Valeu, tremendão!