Acordes no juri: Brigas judiciais que marcaram a história da música

Quando uma história na música para nos tribunais, é sempre um momento tenso, desgastante e uma mancha na trajetória de cantores, cantoras e bandas. Mais do que cifras milionárias e contratos mal estruturados, essas disputas revelam o lado menos glamouroso da indústria fonográfica: o de artistas que, depois de compartilhar palcos e glórias, encontraram-se frente a frente nas contendas, disputando não apenas dinheiro, mas também identidade, legado e controle criativo.

Ao longo das últimas décadas, os tribunais foram palco de histórias tão dramáticas quanto os próprios discos que consagraram esses nomes. Para alguns, como os irmãos Gallagher do Oasis, a justiça foi apenas uma etapa amarga antes da reconciliação. Para outros, como Hall & Oates, ela marcou o ponto final definitivo de uma das parcerias mais bem-sucedidas do pop.

Recentemente, a batalha judicial envolvendo os integrantes do The Police é a que tem chamado mais atenção, com a busca de royalties de Andy Summers e Stewart Coperland contra Sting. E nessa vibe judicial com cara de banca de advocacia é que relembramos alguns dos casos que marcaram a história da música nos tribunais.

Beatles: o divórcio mais caro do rock

A separação dos Beatles, em 1970, não foi apenas uma ruptura artística, mas um processo doloroso que se prolongou nos tribunais por quase duas décadas. O epicentro da disputa foi a Apple Corps, empresa criada pela banda para gerenciar negócios, contratos e o próprio nome do quarteto.

Os anos seguintes foram marcados por litígios envolvendo distribuição de discos, direitos autorais e disputas sobre quem tinha a palavra final em decisões comerciais. Paul McCartney chegou a processar formalmente os outros três integrantes em 1971, um movimento que chocou o mundo e selou a imagem do “divórcio” dos Beatles como um dos mais caros e traumáticos da história da música.

Com o tempo, as batalhas judiciais foram se resolvendo, mas a sombra do litígio pairou por toda a década de 1970 e início dos anos 1980. Apenas no final daquela década parte das disputas foi encerrada, já após a morte de John Lennon. O legado musical permaneceu intacto, mas a história dos Beatles mostrou que, mesmo para os maiores ídolos do século XX, o peso de contratos e interesses financeiros podia ser devastador.

Pink Floyd: a guerra pelo nome e a trégua no palco

Poucas bandas representam tão bem a fusão entre genialidade artística e conflito quanto o Pink Floyd. Em 1985, Roger Waters anunciou sua saída e acreditava que, com ele fora, a banda não teria condições de seguir. David Gilmour e Nick Mason, no entanto, pensavam diferente — e decidiram continuar.

Waters então processou os ex-companheiros na tentativa de impedir o uso do nome “Pink Floyd”. A batalha foi dura, arrastou-se por anos e acabou com uma vitória para Gilmour e Mason, que puderam seguir lançando discos e realizando turnês sob a marca. Waters, por sua vez, seguiu em carreira solo, nunca poupando críticas ao grupo.

As mágoas só começaram a diminuir em 2005, quando os músicos se reuniram no palco do Live Aid, em Londres, em um show histórico diante de milhões de espectadores. Foi um momento breve, mas simbólico: mostrou que, mesmo após décadas de litígios, havia espaço para a trégua. Ainda assim, o caso do Pink Floyd é lembrado como um exemplo de como identidade artística e direitos comerciais podem se tornar indissociáveis em disputas judiciais.

E quer uma “novidade”? Vez em quando Waters alfineta Gilmour e vice-versa. Uma briga que não acaba tão cedo.

Oasis: da batalha nos tribunais ao reencontro nos palcos

Se há uma banda que transformou brigas em parte da própria narrativa, essa banda é o Oasis. A relação tempestuosa entre Liam e Noel Gallagher marcou a ascensão meteórica do grupo nos anos 1990, com declarações ácidas, brigas físicas e tensões constantes. Em 2009, tudo implodiu: a banda se desfez após uma discussão nos bastidores de um festival na França, e vieram as ações legais envolvendo créditos e o uso do nome.

Durante mais de uma década, a reunião parecia impossível. Ambos alimentavam publicamente a rivalidade, e os fãs se acostumaram com a ideia de que os Gallagher jamais dividiriam um palco novamente. Mas em 2025, o improvável aconteceu: o Oasis voltou em uma turnê mundial. Mais do que os clássicos Wonderwall e Don’t Look Back in Anger, o que marcou a nova fase foi a mudança no tom entre os irmãos.

Houve abraços, elogios públicos e uma postura de respeito que emocionou a plateia e surpreendeu até os críticos mais céticos e o que nasceu nos tribunais como uma das separações mais amargas do Rock britânico terminou, anos depois, como um raro exemplo de reconciliação — e um lembrete de que, na música, até os maiores antagonismos podem encontrar redenção.

Hall & Oates: parceria encerrada nos tribunais

Se o Oasis mostrou que a reconciliação é possível, o caso de Hall & Oates revela o lado oposto da moeda. Responsáveis por uma das parcerias mais bem-sucedidas da música pop norte-americana — com hits como Maneater e Rich Girl —, Daryl Hall e John Oates chocaram o público ao protagonizar uma batalha judicial em 2023–2024.

Daryl Hall entrou na justiça contra Oates em meio a divergências sobre a administração conjunta do catálogo e disputas em torno de decisões comerciais. O caso ganhou destaque na imprensa e expôs fissuras profundas na relação de décadas.

Embora a disputa tenha chegado a um desfecho legal, as consequências emocionais foram devastadoras: entrevistas posteriores mostraram mágoas irreparáveis, e ambos deixaram claro que não existe qualquer possibilidade de reunião nos palcos. Diferente do Oasis, aqui a música não conseguiu curar as feridas — e a história de Hall & Oates parece ter se encerrado definitivamente nos tribunais.

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