Aupinard: estrela da música na França e influenciado por João Gilberto

A lista de artistas que optaram pela carreira musical depois de ouvir João Gilberto pela primeira vez — que inclui Chico Buarque e Caetano Veloso — acaba de crescer, a mais de 7 mil quilômetros de distância de Juazeiro, cidade natal do gênio baiano. Aupinard tinha 14 anos quando, zapeando pelo YouTube em seu quarto em Bordeaux, na França, deparou-se com “Saudade Fez um Samba“, composição de Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli gravada por João.

Hoje, aos 22, o rapaz é uma estrela em plena ascensão no país europeu, misturando bossa nova com R&B. As casas noturnas de pequeno e médio porte já não comportam mais o seu público. Em maio, 22 mil pessoas cantaram sucessos como “Quel Type de Vibe?” num estádio em Lille. Em fevereiro de 2025, antes de completar três anos em atividade, o músico se apresentará no Olympia de Paris, um dos palcos mais emblemáticos da Europa. Já tocou na Bélgica, Alemanha e Holanda e não deve demorar a vir a São Paulo: “Eu não conheço o Brasil, mas do ano que vem não passa”, assegura.

Desde novinho, ele gostava de batucar. “Minha mãe me trouxe um djembê (instrumento de percussão) de presente do Congo e depois ganhei um piano, mas achava difícil e peguei um violão abandonado do meu pai”, lembra. Acabou descobrindo a bossa nova pesquisando acordes para praticar. “Eu buscava de tudo, mas me apaixonei pela música brasileira”, afirma, mostrando no celular uma playlist com Trio Mocotó, Elis Regina, Edu Lobo e Marcos Valle.

Durante a pandemia, com violão mais maduro, Aupinard resolveu publicar suas experimentações no TikTok e viralizou. Mas ainda não se arriscava no estilo musical brasileiro. “Eu nem conhecia o termo apropriação cultural, mas achava que um francês não deveria fazer bossa nova.” Mudou de opinião ao ouvir “Le Remède“, uma bossa do rapper francês Luidji — ídolo de Aupinard, com quem já dividiu o palco, numa dessas recompensas que a fama traz.

No fim de 2022, já famoso nas redes sociais, ele assinou contrato com a BMG France e lançou o EP de forte inspiração brasileira, a começar pela capa, referência clara a uma cena do filme “Cidade de Deus“. Ouve-se uma cuíca na faixa “Brasília“, enquanto o batidão do funk se mistura à bossa nova em “Sois en Sûre“. Há ecos de João Gilberto no violão, na voz suave do músico francês e até na duração das canções, curtinhas como as primeiras gravações do baiano.

Mas as comparações param por aí. Seu som tem pegada rap e forte influência do R&B. Se o brasileiro imortalizou a câmera fotográfica alemã Rolleiflex em “Desafinado“, de Tom Jobim e Newton Mendonça, Aupinard prefere compartilhar fotos com a namorada na plataforma Pinterest, como canta em “Parisienne High Level“.

Atualmente, o músico se divide entre os shows e a gravação de um novo álbum, previsto para o fim do ano. E se até recentemente tinha dúvidas se retomaria os estudos em informática, interrompidos pela música, hoje tem certeza de que não.

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