Slip dresses combinadas com sapatos plataforma desfilam nas ruas e os estádios lotam com o retorno triunfante de bandas como Oasis. A cultura pop dos anos 1990 está mais viva do que nunca — e essa onda nostálgica não se restringe à moda ou aos palcos. Ela invadiu os leilões, as lojas especializadas e os acervos de colecionadores de vinil. A música dessa década, que por muito tempo foi considerada “recente demais” para ganhar status de clássica, agora assume protagonismo entre colecionadores.
De acordo com Martin Hughes, leiloeiro e especialista musical da Wessex Auction Rooms, localizada em Wiltshire, na Inglaterra, o interesse pelos discos de vinil dos anos 1990 disparou — e os preços acompanharam essa escalada. Ele afirma que os álbuns lançados após 1993 são hoje os mais procurados em leilões especializados, inclusive discos de nomes muitas vezes ignorados pelo mainstream, como Gloria Estefan e The Beautiful South, que agora valem centenas de libras.
Esse fenômeno de valorização não surgiu do nada: o vinil tem experimentado um ressurgimento acelerado nos últimos anos. Só em 2024, as vendas globais de discos ultrapassaram R$ 1,4 bilhão, um aumento superior a 10% em relação ao ano anterior. Hughes relata que, quando iniciou sua empresa de leilões há uma década, havia 13 eventos anuais generalistas. Hoje, são realizados 12 leilões exclusivos para vinis.
A busca por raridades ganhou força entre gerações que cresceram ouvindo álbuns dos anos 1990: “Aos 43 anos, é minha geração. A nostalgia é o motor principal por trás do mercado de colecionáveis”, diz Hughes, revelando que até discos danificados — como demos empenadas da banda The Who — podem alcançar preços surpreendentes, como 80 libras por exemplar.
O especialista também compartilha casos curiosos de itens valiosos descobertos em meio a pilhas esquecidas. Um dos mais surpreendentes foi o álbum de uma obscura banda de Bristol chamada Folkal Point. Lançado sem repercussão na época, o disco praticamente não vendeu, mas hoje vale cerca de 1.200 libras (mais de R$ 9 mil) devido à sua raridade absoluta — um tesouro para colecionadores de folk que gostam de exibir peças únicas.
Outro exemplo impressionante envolve uma cópia rara de um single dos Sex Pistols, vendida por mais de 20 mil libras (cerca de R$ 150 mil), e uma capa autografada por todos os integrantes do Nirvana, arrematada por milhares de libras. E engana-se quem pensa que idade ou assinaturas famosas garantem valor elevado. Hughes explica que muitos álbuns “autografados” dos Beatles são, na verdade, assinados por empresários ou produtores, e não têm autenticidade verificada.
Mais importante que o tempo ou a assinatura, é o estado de conservação — embora em gêneros como reggae e punk, até discos em condições precárias podem valer muito pela escassez. O segredo, segundo ele, é prestar atenção à prensagem original e à raridade. Álbum de estreia do Oasis? Se for uma cópia original e estiver bem conservada, facilmente ultrapassa as 100 libras. E com a banda em turnê novamente, o interesse só aumenta.
O vinil dos anos 1990 virou objeto de desejo entre fãs e investidores. Alimentado por um sentimento coletivo de nostalgia, o mercado hoje valoriza aquilo que antes era ignorado ou esquecido. Se antes o colecionador buscava os grandes clássicos das décadas de 1960 e 1970, agora volta os olhos para faixas que marcaram tardes de rádio, trilhas de filmes e festas adolescentes.
E a mensagem é clara: aquele disco antigo na sua prateleira pode valer mais do que imagina. E quem sabe, entre um Gloria Estefan e um Oasis, esteja guardado um pedaço precioso da história da música dos anos 1990 — pronto para reviver ao som da agulha no vinil.
Segundo ele, procurar discos clássicos dos Beatles hoje não costuma resultar em grandes achados valiosos, já que muitos são reproduções comuns. Em contrapartida, prensagens originais da década de 1990 são vistas como raridades justamente por terem sido pouco adquiridas em vinil na época — o CD dominava o mercado.