Dia dos Namorados e casais na canção: O amor (na música) é lindo

Por: André Bonomini

Amor: o mais piegas e, ainda assim, o mais frutífero elemento de inspiração para qualquer compositor, cantor e cantora criar canções inesquecíveis ou, simplesmente, rasgos confessionais de sentimentos presos dentro de si próprios. É assim desde os tempos das primeiras melodias clássicas, continua assim com a roupagem que mescla poesia e sensualidade nas trilhas de casais espalhados mundo afora.

A musica é, talvez, a maior residência de histórias e frutos oriundos do romance. Impossível se criar uma lista que disseque cada caso, sobretudo aqueles que nasceram no meio da música ou que juntou outros meios dentro de uma canção só. São vários exemplos e cada um com sua particularidade, as vezes até de assemelhando com o que vivido foi por outros que, ao ouvir melodias embaladas por este sentimento, fizeram delas as trilhas sonoras das vidas a dois que tem.

Alguns romances foram tão intensos quanto as canções que nasceram delas, notas evidentes em qualquer discografia que se preze. John Lennon e Yoko Ono, por exemplo, transformaram o relacionamento em um símbolo de paz e arte performática, com impacto direto nas fases mais experimentais dos Beatles e na carreira solo de Lennon.

A forma como o beatle conheceu a artista plástica niponica pode soar a mais aleatória, mas o resultado deste encontro é lembrado até hoje, seja por um sentimento leve de amor de verdade e tão forte quando, seja pelo infeliz ódio que alguns fãs dos Beatles ainda guardam (erroneamente, diga-se) da japonesa, colocada por vezes como o pivô da separação do grupo.

Falando em Beatles, tirando talvez Ringo Starr e suas histórias particulares com a saudosa Maureen Cox e a belíssima Barbara Bach (que praticamente o salvou do vicio no álcool), outras memórias saíram dos corredores britânicos para se tornarem eternas. George Harrison era parado de amores por Pattie Boyd, e o triangulo amoros formado pelos dois e pelo grande amigo Eric Clapton gerou o caso mais famoso de “fura-olho” do Rock, além da épica “Layla“, composta por Clapton diretamente para a dama que acompanhava o guitarrista beatle.

Ainda na mesma composição do Fab Four, a união entre Paul e Linda McCartney foi uma parceria afetiva e musical que se refletiu tanto nos palcos quanto nas composições do Wings no passar dos anos. Linda Eastman, fotógrafa de mão cheia, é refernciada até hoje como a “eterna esposa” de Macca, tão marcante quanto e tão saudosa, desde sua partida vitimada por um câncer, em 1998.

Saindo da ciranda dos Beatles, lembramos de outro exemplo emblemático dentro do próprio Rock (e que brilha os olhos de Stephany Sander). Ele vem do Fleetwood Mac e nos recorda do relacionamento entre Stevie Nicks e Lindsey Buckingham, que rendeu faíscas criativas no clássico álbum “Rumours” (1977), um dos discos mais vendidos de todos os tempos, repleto de letras confessionais sobre a separação do casal, hoje um dos pontos nervosos de uma possível reunião do que restou da banda, embora Nicks sempre tire o corpo fora de qualquer tentativa.

Na linha clássica, impossível não lembrar do encontro entre James Taylor e Carly Simon, que deu voz a uma era folk e suave do pop rock, com sucessos como “You’re So Vain” e “Fire and Rain” atravessando gerações. Uma relação belissima por fora e intensa por dentro, seja para as rusgas ou o sentimento. Nessa linha, também destaca-se o longo casamento de Sonny Bono e Cher, que virou inclusive programa de televisão nos anos 1960 e projetou a dupla como simbolo do pop colorido da década. Mesmo separados, Cher sempre teve um grande carinho pelo ex-marido e não escondeu a tristeza quando da morte de Sonny, num acidente em esquis, em 1998.

Já na era dos streamings e redes sociais, os relacionamentos continuam sendo combustível criativo — e midiático. Taylor Swift e Travis Kelce é a prova da união de dois mundos já comentada aqui. A cantora e o principal nome nas jardas do Kansas City Chiefs despertou sensações de carinho e até ódio, motivando até as provocações dos torcedores adversários da equipe sempre que o Kansas os encontrava. No entanto, a presença da loirinha também ajudou a lotar estádios por mais uma página deste românce entre canção e esporte.

Na mão contrária do conto de fadas de Taylor e Travis, a história romântica entre Lewis Hamilton e Nicole Scherzinger foi algo tão intenso quando explosivo para o piloto britânico, que conquistou o primeiro dos sete titulos na F1 tendo a leader do então Puussycat Dolls ao lado dele. No entanto, a instabilidade do namoro contribuiu para o mal momento de Lewis nas pistas nos últimos anos em que defendeu a McLaren, com péssimos momentos na pista. Separados há muito tempo, Hamilton chegou ao ápice da carreira indo para a Mercedes e faturando mais seis títulos, enquanto Nicole também tem se destacado no teatro, conquistando recentemente um Tony Award.

Nem sempre o amor, como vimos, é descrito como “belo” na inspiração dos cantores, e exemplos da mágoa e da ironia dele estão por ai rolando. Olivia Rodrigo, por exemplo, converteu experiências amorosas pessoais em baladas confessionais que definiram uma geração, com faixas como “Drivers License” e “Vampire” despontando entre os maiores sucessos dos últimos anos.

A fórmula da frustração e do fim do amor, tal como a beleza escrita e cantada, também gera lá seus frutos marcantes. Miley Cyrus e o ator Liam Hemsworth, entre idas e vindas, inspiraram canções de superação como “Wrecking Ball” e “Flowers“. Katy Perry também foi a fundo no peso do fim de relacionamento com o ator Russell Brand, o que gerou canções introspectivas e reflexidas no álbum “Smile” (2020). Inclusive, Russell terminaria a relação por mensagem enviada a cantora durante uma das passagem de Katy aqui pelo Brasil.

E claro, nesta linha da “indireta”, talvez o que Leoni fizera com Paula Toller soasse assim. Os dois tiveram um breve namoro entre 1980 e 1982, quando o Kid Abelha ainda estava nascendo. Leoni deixou a banda em 1986 para criar o Heróis da Resistência e, anos depois, lançou solo a fantástica “Garotos II (O Outro Lado)“, uma autêntica resposta à ex-namorada quando Paula lançou mão da também bela “Garotos” em 1985.

Outra clássica no cancioneiro nacional e ainda na linha do “fim do amor” meio que viralizou mais recentemente, mas com o impacto que qualquer história traria: a belíssima “Resposta“, um dos clássicos do Skank nos anos 1990, foi uma parceria de Samuel Rosa com Nando Reis, em uma letra onde Nando abre o coração sobre o término de seu namoro com a também fantástica Marisa Monte. Nando, quem terminou o relacionamento com Marisa Monte, ainda afirma ter expressado na letra esse sentimento ambíguo. Mesmo que tenha escolhido o fim do namoro, de certa forma, ele gostaria de que os dois tivessem continuado juntos.

Poderiamos ficar horas escrevendo e recordando, em texto ou até um hipotético podcast, sobre o amor na música. Mas como disse, a complexidade e frutificação que o romance gera na canção é infinito e, enquanto houver um beijo ou uma rusga, a certeza é que haverá um cantor, cantora ou banda para ilustrar uma história como a deles ou como a sua, sendo um grande sucesso para o mundo ou para o coração de alguém ou de “alguéns”.

É fato e não se discute: o amor na música ainda é lindo, ele continua inspirando por ai.

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