“Nevermind” do Nirvana completa 30 anos e se mantêm eternizado

Eu me lembro exatamente do dia em que ouvi “Come As You Are” pela primeira vez. É uma daquelas canções que te fazem enxergar o mundo de um jeito bem diferente. Uma guitarra simples e potente, uma bateria marcante e claro, os vocais extremamente sinceros e únicos. Kurt Cobain, Dave Grohl e Krist Novoselic mostraram ao mundo que um power trio tem sim a potência necessária para conquistar o mundo.

Quando chegou às lojas, o disco tinha uma tiragem de apenas 46 mil cópias, ou seja, a gravadora acreditava que se tratava de um trabalho despretensioso e muito alternativo. Pois é, a história foi outra. Foi um verdadeiro “boom” depois do lançamento. Saindo totalmente das raízes do grupo, o Nirvana tornou-se instantaneamente tudo aquilo que a banda mais desprezava: artistas do mainstream.

E aí a banda se tornou a maior do mundo, incendiando lares com aquelas guitarras, com a voz angustiante de Kurt Cobain e aquelas melodias que grudavam feito chiclete na cabeça. “Nevermind” já vendeu mais de 30 milhões de cópias em todo o mundo, tornando-se um dos maiores álbuns da história da música. Provavelmente, também forjou uma espécie de cultura jovem globalizada, alimentada pelo crescente alcance da MTV (que teve seus vídeos, incluindo “Smells Like Teen Spirit” rodado até a exaustão).

O acadêmico de estudos culturais brasileiros Moyses Pinto, agora professor da Universidade Luterana de Porto Alegre, ficou impressionado com o lançamento inicial de Nevermind quando tinha 11 anos. “Eu pensei: ‘isso é perfeito’; parecia uma síntese brilhante de barulho e música pop, ” ele conta em entrevista à BBC.

Ouvindo hoje o disco (sinceramente depois de muito tempo com ele apenas na prateleira), é impossível não se arrepiar em algumas estrofes, não balançar a cabeça e os braços imitando uma bateria quando “In Bloom” começa. Todas as vezes que dou o play no cd, vinil ou nas plataformas de streaming, me vêm à cabeça aquela primeira vez em que ouvi e como não tinha noção do que o mundo estava vivendo.

Muito já foi dito sobre, várias curiosidades já foram desvendadas, documentários e claro, o suicídio de Kurt Cobain acabou sendo uma sombra em torno das composições deste disco, como em “Something in The Way”, por exemplo. Mas Nevermind ultrapassou a barreira do tempo sem se tornar “rock de tiozão”, pelo contrário, quando ouvimos as canções, fica evidente que as novas bandas só existem graças a influência e referência deste álbum.

Assim como os Ramones, o Nirvana mostrou que qualquer um poderia tocar, fazer sua voz ecoar e emocionar as pessoas com uma guitarra, baixo e bateria. Diferente daquele glamour todo de bandas como o Guns N’ Roses, Aerosmith e outras do cenário Glam. E a partir daí, não deu mais para fechar as portas do alternativo, da cena indie, do grunge mundial. A verdade é que o Nirvana com o “Nevermind” acabou definindo o que seriam os anos 90: um misto de angústia, barulho e muita camisa xadrez.

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