Playlist do tricampeão: Da MPB ao Rock, a relação de Ayrton Senna com a música

Ayrton Senna da Silva: como você definiria ele musicalmente?

Para o brasileiro que acordava (ou ainda acorda) nos domingos pela manhã atrás de emoção, este nome pomposo mas cheio de significado era certeza de um momento de emoção, duelos a mais de 300 por hora e, naquele tempo, a quase certeza que sairíamos para o almoço com um sorriso escancarado na cara por mais uma vitória nas pistas.

As atuações do Beco – como era conhecido pela família – a cada passagem do circo veloz da F1 eram quase embaladas por melodias musicais audíveis apenas por quem imaginava, a cada curva, uma trilha sonora especial: a tranquilidade de um clássico na hora da concentração, um Pop frenético no momento da largada, o puro Rock nos momentos de mais limite e algo que beira a apoteose de “We Are The Champions” na chegada triunfal.

Seria uma playlist perfeita para encaixar qualquer som nestes estilos e fazer de uma manhã com Senna algo puramente musical. Mas, fora das pistas, o tricampeão nunca teve uma musica que fosse, de fato, uma ode a seus feitos na pista. Uma tentativa feita por Milionário & José Rico, ainda em 1994, foi talvez a única canção mais próxima de algo direcionado a ele, mas fora isto apenas temas esporádicos que ligam-se diretamente a história do “chefe” nas pistas.

Você deve se perguntar, com esta definição, com relação a obra de Eduardo Souto, o “Tema da Vitória“. Mas vale ressaltar que a canção composta pelo maestro em 1983 foi criada para ilustrar os vencedores do GP do Brasil em específico. Só depois, no GP da Bélgica de 1985, ela seria o rótulo dos brasileiros vencedores, e com a curva ascendente de Ayrton na categoria, ela virou quase um tema próprio dele mesmo. Caso clássico de “cair como uma luva”, pura e simplesmente.

Mas, voltemos a pergunta inicial: como você definiria ele musicalmente? Talvez nem soubesse. Senna, no gosto pessoal, era bem eclético, podia trafegar entre a MPB e o Rock com muita facilidade quando tirava um tempo para ouvir discos e CDs no sítio de Tatuí, no apartamento de Mônaco ou na casa que vivia em Sintra (Portugal). Mas na (podemos chamar assim) playlist do campeão, alguns nomes se destacam e a gente faz questão de contar quais são estes músicos e sons que trazem recordações fantásticas da carreira e obra do piloto em cada um.

Sendo assim, vamos lá ver o que o filho do seu Milton e da dona Neide ouvia? Veja só:

Milton Nascimento: Bituca e Ayrton eram grandes amigos e a amizade era tão grande que até hoje muitas pessoas acreditam que a magnífica “Canção da América” foi escrita para o piloto. Ela foi cantada e executada a exaustão nos momentos de luto pelas quais passava o país naquela primeira semana de maio de 1994, inclusive tocada no velório.

No entanto, apesar da música falar sobre amizade, não é entre Milton e Senna. O cantor, na verdade, escreveu a canção para o músico sul-africano Ricky Fataar, que ele conheceu quando foi para Los Angeles gravar seu disco em inglês. A música original se chama “Unencounter“, a letra em português só foi escrita um tempo depois, por Fernando Brant, um grande parceiro de Milton Nascimento.

Porém, apesar de não ser especificamente para ele, essa era uma das canções preferidas de Senna. Hoje a canção é muito significativa no que diz e além de lembrar a amizade entre o piloto e o cantor, revive a saudade que todo o Brasil sente de Senna, de uma forma cheia de acalanto e paz.

The Beatles: Sim, Maurício Carvalho! O piloto era também um grande fã do quarteto de Liverpool, tanto que um dos discos do fab four era um de seus preferidos na coleção: o revolucionário “Revolver“, famoso por ser um dos pontos de virada no conceito da banda nos anos 1960.

A obra tinha o coração de Ayrton e traz consigo músicas que vão desde clássicos como “Yellow Submarine” e “Eleanor Rigby” até canções mais tristes como “I’m Only Sleeping“.

Queen: A trupe de Freddie Mercury também marca presença entre os álbuns preferidos de Senna: o “A Day At The Races“, de 1976. Apesar de parecer feito para o mundo do automobilismo, ele foi inspirado nos irmãos Marx, que integravam o elenco do filme de mesmo nome.

A ligação do grupo com Senna é tão importante que ele tem uma canção no álbum de homenagem ao piloto, que foi lançado após sua morte: o compilado “A Tribute To Ayrton Senna“, de 2002, onde a banda deixa como registro a apoteótica “I Want It All“.

Tina Turner: Talvez a passagem mais marcante do campeão relacionada a música. Além de fã, Senna compartilhou um momento mais do que especial com a cantora. O piloto, acompanhado de sua então namorada Adriane Galisteu, curtia o pós-vitória no GP da Austrália em 1993 e apareceu em um show de Tina enquanto ela fazia uma turnê na terra dos cangurus.

A cantora avistou o piloto na plateia e pediu para que ele subisse no palco. Assim, admitiu que era sua fã e que estava emocionada por vê-lo ali. A Rainha do Rock ‘n’ Roll aproveitou a oportunidade para cantar “The Best” em homenagem ao piloto. A história completa foi contada em crônica aqui mesmo no site da União FM e a faixa da saudosa cantora é, pra alguns, a mais forte em se tratando de ligação de Senna com uma música em específico.

Roberto Carlos: Colegas de vida e de carona, o Rei e o piloto também têm história para contar. O álbum 1982 de Roberto é muito significativo para Senna, uma vez que esse foi o ano em que ele foi campeão da Fórmula Ford 2000.

Em uma gravação para o especial de fim de ano da Globo, em 1988, mesmo ano do primeiro título mundial de Senna, ele pegou carona com Roberto no famoso Escort XR3 branco.

Phil Collins: O lendário baterista do Genesis e uma das mais marcantes vozes do Rock mundial era mais um grande nome que rodava na vitrola de Senna. Dele, destaca-se a apoteótica “In the Air Tonight”, uma das que Ayrton ouvia para relaxar entre as tensões de um final de semana de GP.

Alias, em uma das passagens mais emblemáticas de Ayrton, Collins foi a trilha sonora no autorádio do Audi em que ele levava o jornalista Edgard Mello Filho para uma volta rápida em Interlagos ao contrário. O próprio Edgard confirma a informação recordando das conversas com o “chefe” dentro do carro: “deu até pra ouvir um pouco do Phil Collins que tocava no rádio”.

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