Perdemos a voz e a força de Elza Soares

Não sabemos o tamanho de Elza Soares.

A artista, que nos deixou aos 91 anos neste 20 de janeiro de 2022, tinha uma das mais sofridas biografias. Sua força e verdade, iam além da música e da arte.

A artista, que desde menina cantarolava com a lata d’água na cabeça é retrato e reflexo de um país que na dor cotidiana encontra beleza e refaz o destino. Nascida Elza Gomes da Conceição nos arredores de Padre Miguel, no Rio de Janeiro, ela se casou, forçadamente, aos 12 anos e viveu um longo caminho marcado pela violência doméstica e o luto. Elza perdeu quatro filhos. Do romance com Garrincha, ídolo nacional, passando pelas oportunidades que agarrou com sua voz capaz de graves e improvisos únicos, Elza sofreu perseguições da imprensa, e foi alvo de um racismo marcada pelo machismo velado.

Apesar de todas as batalhas, em entrevista à BBC em 2018, Elza disse que preferia esquecer os “momentos de ódio” e focar nos “momentos de amor” com Garrincha. Do primeiro hit, Se Acaso Você Chegasse até suas interpretações brilhantes para canções como O Meu GuriDura Na QuedaHoje é Dia de Festa, Elza se tornou a “voz do milênio“, título concedido pela BBC que reconheceu a voz da menina favelada como a mais fundamental.

Em 2015, aos 84 anos, lançou A Mulher do Fim do Mundo, trabalho que a consagrou em definitivo e tardiamente, mas que a fez receber o reconhecimento que tanto merecia. Com produção de Guilherme Kastrup, o álbum misturou gêneros como o samba, o rock, o rap e a música eletrônica em um verniz moderno, atual. Ela, mais uma vez, era capaz de se reinventar, reencontrar sua história e nos expor aquilo que precisávamos enfrentar não apenas como indivíduos, mas também como nação.   

Ficará eternizada a imagem de Elza Soares, sentada em seu trono, no desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel que a homenageou em 2020. A sua casa, a sua gente, a sua cidade, o seu país aplaudiram por longos minutos sua passagem pela Sapucaí. Em mais de 50 anos de carreira gravou 34 discos lançados até 2019, transitou entre vários gêneros e se tornou um ícone do movimento negro. A artista encerraria o desfile da Mocidade Independente neste Carnaval 2022. O Enredo, que fala sobre Oxóssi, homenageia a bateria da escola e no último setor, traria a cantora que mais cantou os ritmistas da verde e branco de Padre Miguel.

O velório de Elza Soares está ocorrendo nesta sexta-feira (21), no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e é aberto ao público das 10h às 14h, após cerimônia fechada para amigos e familiares.

Ver mais novidades